quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Moral & escolhas.

I - Valores morais são algo engraçado. Dentro do intelectualismo, ou da arrogância do conhecimento, aqueles que se julgam superiores por acharem que sabem demais invertem a premissa de todas as demais coordenadas que regem a sociedade. Simplifiquemos. Caso você compre algo novo – em nome do obsoleto – isso é “bom”. Se, por outro lado, mantiver itens ou pessoas por muitos anos idênticos em sua vida, isso é “ruim”. Mas se você for um intelectual consciente e concordante da frase “ignorância é uma benção”, você concorda que ignorância é “bom” e saber demais é “ruim” somente na frase, pois na prática a sede de “saber demais” e “mais do que os outros” continua drenando todas as tuas forças, então os valores se invertem e os ignorantes são vermes de esforço e concentração “ruins” e você é, no seu interior egoísta, “bom” – por que não, portanto, superior? Das mais variadas formas de convencer a si mesmo sem lutar – ser “bom” por natureza e ser “ruim” em detrimento de.

II - Não querer jogar fora o pensamento humano, mas jogando-o fora. Como pensar sobre coisas e chegar a conclusões do que ainda não se tem como saber? Digo ainda? Engano-me. Do que talvez não se possa saber? Anos de conhecimento presunçoso acerca de como tudo começou e qual a direção da vida. Sinto lhe dizer, você não sabe. Eu não sei. Ninguém sabe nem é possível saber. As teorias devem existir, claro. Mas como toda teoria ela existe como possibilidade. Do momento que esta adquire caráter doutrinário em diante perde a credibilidade. E como crer em algo sem enfétizar?

III - Ah, a incapacidade dos presunçosos de viverem sem respostas! E a lembrança que ecoa na mente de que a religião é só o máximo de fé possível, pois crer na ciência, na filosofia, em você mesmo ou no nada também requer o mesmo tipo de .

IV - O que é o lugar de cada um senão aquele no qual ruminou o suficiente para se sentar confortavelmente pelos próximos breves minutos de vida? Sem a reflexão, encontramo-nos sentados em sofás, cadeiras ou mesmo barcos que vão à deriva por um oceano sem vida, sem profundidade, sem cor e sem destino. O pensar permite que alguém possa escolher conscientemente onde sentar. Não há julgamento de valor na frase ou, ao menos, não deveria ter. “Pensar” não é melhor do que “não pensar”, mesmo porque entraríamos numa discussão do que é ou deixa de ser “pensar” e criaríamos anos de discussão filosófica ao redor desse tema que, no momento, não vem ao caso. A moral não vem ao caso – o que é concernente à vida é o que fazemos dela e, se alguém não sabe o que faz dela, não vive. Esse é o meu único problema existencial. Todos aqueles que “não sabem viver”, pois, pra mim, se há de ter alguma doutrina, que seja a doutrina da vida! E que agora surja então a questão moral!

V - Ninguém se interessa em mim. Eu sei. Mas que se interessem pelas propostas de minhas ideias e façam delas um ringue para os pensamentos. Que nenhuma ideia simplesmente grude no fundo de seu cérebro sem uma mínima reflexão a respeito. Briguem com as ideias e não com os donos delas.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Um brinde ao retorno do fluxo.

I - E decidi não me importar mais com as palavras de sangue. Pessoas são invólucros de organicidade e, portanto, a seriedade ou a estupidez de seus lapsos deveria ser encarada com um largo e expressivo sorriso no rosto. Sorriso que vem acompanhado não de escárnio, mas de paciência pela imensidão da instabilidade que enxergo. Quase sinto como se tivesse passado meses com a venda em meus olhos, de forma que cega pelos olhos pude interpretar as ações com outros sentidos.

II - É provável que a raiva como motor, conciliada com a razão e desbocando no rio da profunda tristeza tenha dado motivos para o julgamento desenfreado. Afinal de contas, a indignação deve acometer quem o observa, pensando: “como pode um ser aparentar tamanha força e se recuar diante dos obstáculos da vida?”. Ao que eu respondo: nem toda chuva é torrencial, mas toda chuva transforma a geografia da Terra.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Significados e desabafo

Talvez eu devesse falar mais vezes o que se passa aqui dentro. Eu faço muito pouco isso porque acredito que só com os pensamentos, música alta e algumas horas de sono tudo vá embora. Não vai. É um processo cumulativo de achar que você é insignificante até com o que você já foi importante antes. Não foi a situação que mudou, você mudou. Você mudou porque era muito mais fácil ver aquelas coisas quando elas eram raras e você não tinha se entregado para elas. Acontece que você muda quando você está entregue e o resto das pessoas não estão, e aquelas coisas já não são mais raras. Você as antecipa, você já sabe e já delimita as bordas de tudo antes de acontecer, eis que você se torna uma pessoa ansiosa. Talvez essa antecipação seja o tal "ser adulto" que alguns reagem fugindo antes de se decepcionar e outros preferem dar mais chances porque anteriormente podem ter se escondido demais. Qualquer que seja a sua situação, é uma cilada. No fim você é insignificante se ficar com uma pessoa só. Na nossa época as pessoas desistem e vão para outra. Só te jogam fora porque já sugaram mesmo o que você tinha de melhor. Você é sozinho, sempre foi e sempre será. Você se entrega para desacreditar. Com descrédito você quer acreditar de novo, não consegue, a ansiedade retorna. Ter pessoas diferentes na sua vida faz o que eu sempre temi: te revaloriza. Porque esperar que uma pessoa só vá te revalorizar ao longo do tempo é rir no vácuo: um som que ecoa e você se acostuma, mas não ocupa espaço algum. A esperança é mais ou menos isso. E pensar que eu fugi dela a vida inteira, quando me estabeleço para confiar, não existe aproximação que faça efeito. Se pudesse eu jogava fora todos aqueles que acham que pensar e ser como uma máquina é melhor, que a competitividade é melhor do que a cooperação. Tais pessoas sempre existiram de alguma forma, mas nunca foram a maioria. Agora que elas são a maioria, eu nasci e queria não ter tido esse privilégio.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Nietzsche: As reverberações de uma sequência de eventos em um ser histórico



'Deve-se perguntar, portanto, o que se passava em território alemão e, mais extensamente, na Europa no geral enquanto o filósofo vivia. Quando ele nasceu não havia uma Alemanha, somente províncias da Áustria e Prússia. Em 1871 Nietzsche viu a unificação do território ser estruturada e solidificada tendo como chefe de Estado o chanceler Otto von Bismarck. Esse é um dos acontecimentos desse ano que marcaram o filósofo, o e outro se dava na França: a Comuna de Paris.

A Guerra Franco-Prussiana, guerra de 1870-1871, estabelece uma clivagem nas relações da Alemanha e França, afinal essas duas potências já vinham travando batalhas desde as Guerras Napoleônicas. Tal guerra envolvia interesses de equilíbrios de poder entre França e o então Império Prussiano, que terminaram por concluir com a vitória alemã e o ímpeto da unificação gerido por Bismarck.

Bismarck primeiramente era hostil à unificação e, portanto, os alemães não lhe adoravam. O plano inicial do chanceler era o de excluir a Áustria de seu território e, para isso, foram necessárias, em média, três guerras. No entanto, embora o interesse fosse o de tirar a Áustria de campo e não fomentar necessariamente o espírito de junção do território alemão, Bismarck se aproveitou de uma oportunidade de enfraquecimento do exército francês e tomou a Alsácia e a Lorena, territórios franceses; esta medida acabou por cimentar decisivamente o desejo dos alemães de se unificarem .

A Comuna de Paris, apesar de ocorrer na França, em 1871, tem impacto sobre Nietzsche. O acontecimento se refere à tomada de poder pelos operários durante três meses e, apesar de ter falhado sua permanência no domínio, a Comuna conquistou muitas reformas no meio trabalhista como: fim do trabalho noturno, descontos em salários foram abolidos, os sindicatos foram legalizados, o cargo de juiz se tornou eletivo, institui-se a igualdade entre sexos, entre outras. Para Nietzsche, o povo não deveria subir no poder, somente os homens devidamente estudados deveriam exercer tal obrigação. Além do mais, para o filósofo, o povo jamais deveria ter consciência de como é oprimido, do contrário, tomaria conta de toda a sociedade e iria distorcê-la. Nietzsche nunca explica exatamente esses sentimentos, talvez aponte que as pessoas sem condições de bons estudos não nutrem “virtudes”, mas isso não explica muita coisa. De qualquer forma, o que ele deixou claro é que a destruição de museus, causada pelos operários em Paris, realmente o deixou com impressões negativas sobre o operariado e o povo, no geral, daquele momento em diante, o que mostra que o acontecimento histórico o influenciou de alguma maneira em sua posição.

Assim, após esse apanhado biográfico em Nietzsche e bem geral em território alemão e suas delimitações, é possível estabelecer melhor o que chegava ao filósofo além dos “problemas” internos, ou seja, as turbulências mais características da segunda metade do século XIX e como estes fatos afetaram Nietzsche, o que prova sempre que ele era um homem de seu tempo'.

Trecho de conclusão de curso acadêmico, 2012.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Review 6


Epica – Requiem for the Indifferent

“Prece pelos mortos.
Música cantada durante os velórios ou simplesmente para homenagear os mortos”, fonte.

Observação: Réquiem está explicado acima e “for the indifferent”, aqui, indiferente, são todos aqueles que não pensam serem importantes questões sociais e ambientais do mundo, principalmente ambientais e, para qual direção o materialismo desenfreado – que não calcula o efeito de exploração do meio ambiente – pode ter para os seres humanos. O legal é que a capa e o título já deixam bem claro que tipo de crítica, também à maquinação, nós vamos encontrar nas letras do álbum.

Karma: é a faixa que anuncia. Anuncia porque a forma que a bateria é usada não é sem intenção, pois não tem como não se sentir ansioso para o que vem a seguir. Também penso que o coro é interessante, ele quebra o ritmo e ajuda a alimentar o imaginário.

Monopoly on truth: Epica é uma banda complicada de ser analisada em simples Reviews porque 1) há o que dá pra entender; 2) o que não dá pra ter ideia do que estão falando; 3) os prenúncios dos álbuns futuros – lembrando que todos eles falam de algum tema crítico; 4) ou mesmo complementos de letras do passado. Além disso, também há de ser analisado a) a estrutura musical é complexa, todo segundo tem uma proposta diferente; e b) as letras (todas) tem uma profundidade sem igual. Dito isso podemos passar para a primeira faixa de ‘Requiem for the Indifferent’. A começar pela conexão com ‘Karma’, ‘Monopoly on truth’ começa com tudo. O uso de latim é muito frequente e dá a ideia “épica” que o nome da banda sempre tenta passar. Depois do trabalho inicial a Simone e o Mark tem uma participação rápida, seguida do retorno dos coros. A música segue nessa variação de turnos, com muitas mudanças técnicas que são quase impossíveis de serem comentadas aqui, até o refrão em 3:26min. Eu tenho que dizer que acho esse refrão um dos mais lindos e intensos que eu já ouvi – ou que existem. Logo em 3:48min há uma pausa estrutural e o enfoque na voz da Simone totalmente inesperados. O legal dessa banda é exatamente isso, no começo você não podia esperar tanta variação e momentos bonitos ao longo da canção. A música retorna ao Mark-Simone-coro variação, mas, preste atenção, é diferente da inicial! Em 6:04min há o refrão solo que a Simone faz, seguido de guitarra e finalizado com o coro total. Vale lembrar que a importância de Epica é diferente de outras bandas e vale um pedaço aqui das letras mais fortes e impactantes, uma vez que elas não podem ser deixadas de lado em uma análise. Para ‘Monopoly on truth’ vai o refrão:

“Can we trust all the facts and believe that the fancied wise are just and needed?
Do we want to rely on the views of the righteous ones who are succeeding?
If you look all around and you see all the things that are not meant to be
then you know it's time to let them go”.


Storm the sorrow: esse foi o primeiro single do álbum. Normalmente os singles são mais pop, mas não no caso de Epica. Ou então os singles são curtos e românticos. Também não é o caso dessa banda. ‘Storm the sorrow’ é uma música sobre quem você é, sobre questionamentos de superação e depressão, além de ter mais de 5min e um videoclipe fenomenal. Em linhas gerais, é a Simone e leves coros que fazem o trabalho, só em 3:30min que o Mark dá uma forcinha. Aqui a estratégia é similar à de ‘Monopoly on truth’, após o gutural, primeiro o refrão com a Simone acompanhada de piano, ou seja, um refrão mais solo; seguido pelo refrão completo.

Delirium: tenso mesmo é falar de ballad que, em outras palavras, são as músicas mais lentas de um álbum. No caso de ‘Requiem for the indifferent’, ‘Delirium’ é a ÚNICA ballad do álbum. O que isso significa? Significa que eles sabiam que tinham que caprichar em níveis astronômicos, já que esse vai ser o único stop, o único relax, do álbum. E foi isso que eles fizeram. O começo é de um coro harmonioso, seguido de piano e Simone. A parte cantada é repetida algumas vezes, mas cada vez que é repetida é somente na melodia, pois a letra muda e, ainda que repetida na melodia, há mudanças. Em 2:25min o refrão é representado e, pra variar, a voz da Simone faz todo o trabalho: vai até você, arranca seu coração e deixa ele em algum lugar abandonado até você resolver acordar e se tocar do que foi que você acabou de ouvir. Até 3:39min o fundo musical acompanhava a vocalista, em 3:39min o fundo torna a música mais intensa e maior. Em 4:15min a faixa fica um pouquinho mais sombria, ampliada por um solo de guitarra e, enfim, retornando ao normal. ‘Delirium’ encerra com a Simone repetindo as frases principais de forma mais pausada.

Internal Warfare – agora o álbum volta ao ‘normal’, um tom mais pesado que vai carregar até sua última faixa. O assunto também começa a ficar mais sério e o foco da letra são questionamentos sobre coragem, convicções e conservadorismo. Depois do som introdutório, a Simone abre a música com as perguntas:

“Would anybody dare to know the answer?
Would anybody dare to face the truth?
We bide the time awaiting our answers to our kind”.


De cara eles deixam claro que estamos num processo apocalíptico e precisamos acordar. Para isso, devemos fazer mais perguntas e medir as consequências do consumismo e capitalismo atuais. A música segue com a Simone e o coro e tem uma mudança em 2:53min, onde o Mark tem rápida participação, o coro intercala e em 4:22min, depois do solo de guitarra, a música retorna ao refrão e encerra com o coro num tom mais agudo.

Requiem for the indifferent: no meu modo de ver, essa faixa é uma obra totalmente experimental de Epica que deu muito, mas muito certo. Eles usam muito sons considerados para nós como sons orientais e é com esses sons que essa faixa começa, mas veja bem, a quantidade de mudanças desses oito minutos e pouco mostra que eles foram razoavelmente planejados e, aparentemente, os buracos foram sendo preenchidos conforme a produção e ficou excelente. Exemplos de mudança? 0:01min até 1:23min; 1:23min até 2:17min; 2:17min até 2:44min; 2:44min até 3:20min; 3:20min até 3:46min; 3:46min até 4:36min; 4:36min até 5:19min; 5:19min até 5:50min; 5:50min até 6:53min; 6:53min até 7:17min; 7:17min até 8:02min; 8:02min até 8:33min. São cerca de 12 mudanças no som em oito minutos. E eu tô falando sério! Eu não sei qual a linha do possível harmônico pra fazer tanta mudança soar tão correta o tempo inteiro, só sei que o conjunto fez muito, MUITO, sentido. É uma música pra se abrir no player, quem tem, ou no Youtube, quem ainda não tem, e realmente acompanhar. Vale prestar atenção na crítica do refrão:

“With money segregating
the centers are degrading
the devastation
we feared we’d befall
but soon we’ll realize that
we can get reunited
this could apply to us all, after all
we’ll never find our peace of mind
if we don’t leave the past behind
make up your mind”.


Anima: essa é uma faixa de intervalo, simboliza o meio do álbum e dá uma pequena relaxada no ouvinte e também procura prepará-lo para a segunda parte. É uma faixa de piano com 1:25min de duração que simboliza uma faixa futura.

Guilty demeanor: é a menor canção do álbum. Fala um pouquinho do que cada um enfrenta e pensa e que, quando pensa algo fora das histórias-padrão, tem que ter mais força ainda para enfrentar a quantidade de oposições, pois se descobre sozinho. ‘Guilty demeanor’ começa com algum peso e intervalos sonoros, avança com a Simone, dando espaços periódicos para o Mark ou para o coro participar. É uma das minhas melodias favoritas de ‘Requiem for the indifferent’.

Deep water horizon: essa música começa com instrumentos mais lentos, de forma a dar a ideia de mais uma ballad, mas ela não é. Simone inicia e canta até 0:53min, momento no qual a música começa a ganhar mais profundidade técnica com a entrada da bateria. E em 1:34min o refrão é apresentado pela primeira vez. A canção segue o mesmo estilo até 3:17min, é aí que alcança o estopim de ‘Deep water horizon’ com um belíssimo trabalho instrumental e rápidas interferências do Mark e, no final, da Simone. Esta dá o tom de retorno ao refrão e encerra a música de forma diferenciada ao cantar frases prolongadas.

Stay the course: ‘Stay the course’ e a próxima faixa, ‘Deter the tyrant’, são faixas bem parecidas em minha opinião. As duas são pesadinhas e tem uma participação mais ativa do Mark. ‘Stay the course’ mesmo é o Mark quem canta e a Simone tem ou participações rápidas ou canta somente o refrão. O legal dessa faixa é o trabalho de fundo também e o tema: manter o curso. A quantidade de valores antigos que possuímos e mantemos sem nos questionar se eles ainda se aplicam às mudanças ocorrendo no presente e, além disso, o medo que algumas pessoas têm de mudar, escondendo-se, portanto, atrás das frases conformistas de “não vai adiantar” ou “as coisas sempre foram assim”.

Deter the tyrant: essa música começa de forma intensa e a Simone é quem começa, intercalada pelo coro. O primeiro refrão é seguido pela guitarra, que dá a ideia de que ainda há muito pela frente. A fórmula se repete até o refrão que, dessa vez, tem mais algumas linhas e quando termina, em 3:10min, a Simone e o coro mostram um pedaço novo possível com as notas até então utilizadas. O Mark faz seu gutural por alguns segundos e, em 3:38min, a Simone retorna por mais alguns segundos, os dois levam à 3:54min, momento no qual o coronel Gaddafi, libanês, se expressa, pois a banda sempre coleta frases de representantes estatais do presente e do passado pra fundamentar suas críticas. Depois disso, a Simone “brinca” um pouco com a voz e em 4:33min o discurso fica mais sério com Mark. A vocalista tem mais uma rápida participação, Mark retorna ainda de forma mais intensa, o auge de ‘Deter the tyrant’ começa e lidera os sons ao retorno do refrão, quando a música termina.

Avalanche: agora eu conto o meu segredo para vocês: as duas últimas faixas do álbum, ou seja, essa e a próxima são, de longe, as minhas favoritas de ‘Requiem for the indifferent’, então vamos sentar, aumentar o som e ouvi-las com muita calma. ‘Avalanche’ inicia de forma que me lembra do infinito, do universo, do místico e coisas desse tipo. É uma faixa que vai crescendo até alcançar a completude, vamos ver como isso ocorre. De 0:01min até 1:14min a música segue o tom místico; já em 1:14min o forma começa a ser delineada e, em 1:43min, com a bateria, ‘Avalanche’ já assume o esqueleto. Depois da participação do Mark, que eu considero o sangue fluindo, o coração retorna a bater. A música fica ritmada com alma. De 3:27min até 4:27min é como se o conjunto todo brincasse com o ouvinte e é impossível não segurar na mão desse som tão orgânico. O Mark canta mais um pouco e em 5:31min a Simone apresenta o que, em 5:50min, vai fazer você e seu mais novo parceiro orgânico explodirem em estrelas.

Serenade of self-destruction: mas não acabou. ‘Serenade of self-destruction’ é a última faixa oficial do álbum e, lembram de ‘Anima’? Pois é. Ela continua em ‘Serenade’ e, eu devo dizer, que essa é uma das músicas mais bonitas e bem trabalhadas do meu conhecimento. Depois da introdução que prolonga ‘Anima’, a música realmente define a ‘alma’ – que é anima em latim -, e o primeiro coro em latim aparece, seguido pelo Mark. Isso se repete e em 2:48min a Simone entra com o tom de voz totalmente participativo. Ela e o Mark estão ‘se desafiando’, por assim dizer, ao que ele diz que ela não vai conseguir cumprir com sua missão e o refrão dela é: “Try me, don't deny me”, querendo dizer que não a teste porque ela acredita que vai conseguir, maaas, o resto do refrão deixa bem claro, que, pra ela, é uma missão suicida. Até aqui foram miraculosos 4:50min, o que parecia até então um mero piscar de olhos pra quem ouve. Um longo solo Simone com direito aos sons orientais que eu comentei antes vem a seguir. A letra desse momento é:

“I’d rather die
than breathe in my shame
they’ll know my name
all hell in flames”.


Após a Simone, o coro retorna e tem uma longa participação que a Simone encerra ao voltar e, em 7:45min, o instrumental faz um passeio e explora seus potenciais. Claro que essa produção toda só poderia terminar de uma única forma, que é o encaixe perfeito no último refrão eternalizante.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Utopia. não.

"Utopia tem como significado mais comum a ideia de civilização ideal, imaginária, fantástica. Pode referir-se a uma cidade ou a um mundo, sendo possível tanto no futuro, quanto no presente, porém em um paralelo. Pode também ser utilizado para definir um sonho ainda não realizado. Uma fantasia, uma esperança muito forte", fonte.

"Vem a ser o que se imagina como sendo perfeito, ideal, porém imaginário não se sabe ao certo se é possível alcançar ou realizar, é almejado mas apenas utópico", fonte.

A utopia é normalmente relacionada com algum aspecto que almejamos que seja perfeito, rodeado por uma forte esperança e alimentado com profunda (sintoma ou resultado de) irrealização, pois demonstra-se impossível. Mas será? Pra mim, utópico é um mundo cem por cento igualitário, é um mundo onde a moral fique desligada pra não podermos julgar se algo é justo ou injusto, mesmo tudo aquilo que independe de nós. Eu não acredito em algo que seja cem por cento efetivo ou igualitário, porque temos julgamento moral e, a menos que aconteça um acidente bem grande comigo ou com você, essa parte do cérebro vai continuar funcionando e catalogando tudo que é possível perceber - cataloga até, inclusive, a forma de perceber. Acontece que eu não concordo que se não podemos conseguir o ideal, temos também que nos conformar com tudo que acontece do jeitinho que acontece. A questão feminista é vista dessa forma por mim. Não é como se eu não aceitasse que as coisas são do jeito que são e quisesse mudar tudo. Mesmo porque eu estudei história e vi, ao longo dos séculos, como as ideias mudam com uma perspectiva diferente ou educação diferenciada. Também não é toda a estrutura que eu espero que mude, o que eu espero que mude é o respeito. Eu quero ser respeitada. Eu quero andar na rua em paz, assim como a grande maioria dos homens podem fazer. E isso não é briga de 'quero o que eles tem', é briga de quem cansou de ser percebida o tempo todo pela forma como nasceu e só gostaria de ser deixada um pouco mais de lado. Gostaria, mesmo, que a seleção fosse mais rigorosa e não que qualquer mulher fosse assediada aonde quer que vá. Não acredito que querer conquistar essa paz seja utópico, porque não é impossível (existe em outros lugares) nem doloroso. Não é um sacrifício da humanidade pra nada muito maior do que o imaginável, do que o palpável.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Presunção.

Qual é o tamanho da sua presunção? Talvez, esta, seja proporcional à profundidade de ilusão na qual cada um vive. Imaginemos duas correntes: 1) de tudo aquilo que é imaginativo, no sentido mitológico – dentro de um conjunto de crenças falsas do passado ou presente que fazem sentido por estarem interligadas estruturalmente em uma sociedade/cultura/tempo; e 2) e o todo que segue em fluxo, de forma a cair na inércia do pensamento. Assim, caso se refugie em fugas ou raiva de forma irrefletida, está agindo sem pensar e, se por um acaso, estiver consciente e continuar a se esconder, isto pode ser chamado de covardia. E o covarde não pensa de forma ilusória, não se convence de que não precisa participar da vida e de quaisquer escolhas?

É presunçoso todo aquele que acredita em uma única verdade sobre o mundo e os acontecimentos, utilizando como parâmetro somente o próprio ser humano, de forma a partir somente de si e para si, e não calcular consequência, pensar nas próprias ações, entender e compreender.

É presunçoso dizer que sabemos para onde tudo vai e de onde tudo veio, já que mais da metade das pessoas não se conscientiza dos próprios corpos e menos ainda da própria mente, quanto mais de questões complexas que englobam além da sua e da minha percepção limitadas, ainda que combinadas.
É apocalipticamente presunçoso, então, dizer que se entende sobre a vida baseado somente em dados cumulativos: como se a quantidade de anos que se “viveu” e não sequer pensar a respeito da significação de experiências físicas e teóricas e suas respectivas forças.

Presunçosa é a ignorância histórica, acreditar que de fato se está “solto” no tempo, como se nada que viesse antes importasse na construção do presente. E é a mesma ignorância que, mesmo depois da humanidade ter se equivocado sobre a interpretação evolutiva, durante os séculos XIX e XX, nos faz continuarmos acreditando em hierarquias “naturais” de superior e inferior e alimentarmos a exclusão social. Se pensássemos mesmo nisso entenderíamos que cada animal desenvolve o que é necessário para sua sobrevivência, seja isso o que for, e que se não for rápido o suficiente ou se o ambiente mudar, eles podem entrar em extinção. Portanto, o ornitorrinco desenvolveu algo um tanto quanto improvável: eletricidade. Tal animal necessita de algo que chamaríamos de “tecnologia” para sentir as presas e poder caçá-las. Uma aquisição adaptativa e tanto. Nós, por outro lado, precisamos de “inteligência”: interpretação, comunicação e acumulação de informações em longo prazo. Teríamos sumido caso nossos cérebros não se adaptassem às necessidades, pois somos muito frágeis e dependentes: morreríamos com o frio ou mesmo desidratados com facilidade. Somos, de fato, uma espécie peculiar e interessante. Mas não somos o topo da evolução conjugado pelo sentido progressista e hierárquico. Somos, apenas, resultado de uma – longa – adaptação diferente da dos ornitorrincos, e de tantos outros animais fascinantes.


É presunçoso, também, acreditar que o universo gira ao nosso redor, que a Terra é decisiva e imprescindível para o desenvolvimento do resto. O universo e a Terra existiam muito antes de seres humanos aparecerem, e muito depois de perecermos eles continuarão aí. Nem as estrelas, nem os outros planetas, nem os deuses, nem a natureza, nem o que for realmente se importam.

Acredito, enfim, que ambas as linhas do que chamei como ilusão, como citado acima, cruzam-se no infinito e apontam para isto: que ao se autoenganar, viver de inércia, criamos uma mitologia – uma falsa crença – digna de educação, pois somente esta pode superar tal barreira adaptativa: quem sabe nos tornando menos presunçosos podemos ser menos dependentes teoricamente.